“Eu não sou uma mulher forte; nunca fui. Eu só tento ser uma boa mãe para minha filha”, conta Ana*.Diferente da maioria dos paquistaneses que conhecemos, ela toma café. Preto, sem leite, só um pouco de açúcar. “Sempre tomei café, desde quando estava no Paquistão. Chá só uma vez no dia, e pronto. Tomo café quando acordo e aos poucos durante o dia”. Sentada em nossa sala de estar, pela primeira vez conversamos sobre sua história, de como chegou à Itália.
Ana é de uma grande cidade no Paquistão, nascida em uma família cristã. Isso significa que, desde criança, sabe o que é ser discriminada por sua fé. Ao tornar-se adulta, conheceu o que era a perseguição. Ela abriu seu próprio negócio em junho de 2008. Dedicada ao trabalho, rápida mente ficou conhecida na região, chamando a atenção dos muçulmanos locais. Segundo ela, no Paquistão eles não dizem que você é cristão, eles te chamam de “chura”, a pessoa responsável por limpar ralos.
Apenas seis meses depois de começar a trabalhar ali, pessoas do bairro queimaram algumas páginas do Alcorão, jogando-as na frente de sua loja. Imediatamente, ela percebeu que aquilo poderia ser sua sentença de morte. Foi para a casa e contou ao noivo, que pediu para um amigo ir no local e ver o que estava acontecendo. Uma pequena multidão se amontoava, querendo encontrar Ana. Em 4 dias, ela e o noivo fugiram do Paquistão para um país no Oriente Médio.
Caçula de 5 irmãos, tentou ainda voltar ao Paquistão uma vez. Sua mãe havia falecido de um ataque cardíaco, depois de diversos membros da família terem sido perseguidos após o evento em frente ao seu negócio. A família pediu para ela não voltar, pois colocaria a vida deles ainda em mais perigo. Anos depois, seu pai também partiu. Ela conta com lágrimas que eles faleceram sem saber onde ou como ela estava. Casou-se fora de seu país e extraordinariamente formou família em um país muçulmano. Novamente, houve perseguição. Ela e o marido juntaram tudo o que tinham, venderam parte do que possuíam e compraram passagens para a Europa.
Na chegada ao aeroporto, o marido contou que só tinha comprado 2 passagens, para ela e a filha. O dinheiro não era suficiente para todos. Ele retornou ao Paquistão enquanto ela vinha para a Itália, seguindo o conselho de seu marido e conhecidos.
A cada lágrima derramada, olha para a filha, ao nosso lado, assistindo desenho no nosso computador, com fones de ouvidos. “Ela não gosta quando eu choro. Fica triste também, e pergunta com mais freqüência sobre o pai. Digo que ele pode chegar a qualquer momento, mas digo também que eu não sei quando isso será; que ele está tentando”.
Mensalmente, Ana recebe uma pequena ajuda financeira do governo italiano, para seu sustento e o da filha. “Mas eu envio o dinheiro para meu marido no Paquistão, já que ele não consegue trabalhar: por ainda estar sendo constantemente perseguido, precisa mudar-se com frequência de cidade, não podendo ficar muito tempo em um só lugar”.
Perguntamos sobre sua esperança. “Eu só quero meu marido comigo e com minha filha. Eu não entendo o que eu fiz para ser punida, para quererem me matar. O que eu fiz?” Ana conta que gostaria apenas que o mundo desse mais atenção à perseguição que ocorre no Paquistão. “Eu vou contar a minha história para você, irmão, e você decide o que dizer, pois ainda vivo com medo aqui. Eu não sou uma mulher forte. Só tento ser forte para cuidar da minha filha”.
Oramos com Ana, dizendo que, embora ela não sinta-se forte, a força do Eterno está com ela. É Ele que tem cuidado da vida dela e de sua família. Embora ela perca o sono com pesadelos constantes, oramos por novos sonhos na vida dela, por novos sonhos para ela e seu marido. Oramos por esperança e paz para essa irmã, e por tudo o que ela representa, para todas as mulheres em seu país e por uma nação inteira, que muitas vezes não se sente forte, mas que tem resistido em sua fé e no Evangelho, muito mais fortes do que imaginam.
*Nome alterado