“Então, meu sonho… Na verdade, eu não tenho sonhos apenas para o meu futuro no Brasil, mas também tenho sonhos para o meu país, para a minha pátria, para o meu povo.
Meu sonho aqui no Brasil é construir uma vida confortável para minha família e para os meus filhos, mas; ao mesmo tempo; sonho que o meu país e o meu povo não experimentem mais dificuldades e que não haja mais nenhuma guerra no Afeganistão. Eu desejaria que o meu povo, o povo afegão, nunca mais passasse pelas experiências terríveis que vivemos tantas vezes em diferentes épocas da história.
Quando eu morava no Afeganistão, antes da Retomada do Talibã, minha vida era normal. Eu era um rapaz comum. Eu estava indo morar fora do Afeganistão, pois tinha conseguido um emprego no governo para exercer um cargo junto ao ministério de relações-públicas, o qual obtive de maneira honrosa. Eu representava várias instituições e organizações no Afeganistão no que se referia ao Muay Thai (artes marciais). Em termos civis, essa época era como se o Afeganistão estivesse começando de novo. Era como se finalmente ele fosse um país sem problemas.
Nossa vida normal havia voltado, mas depois da retomada do Talibã tivemos tantos problemas. Não somente em relação às questões de segurança, mas também diversos problemas em termos de como administrar a família, como viver a vida sem emprego, mesmo sendo graduado e tendo boas experiências.
Quando o Talibã entrou no Afeganistão, além dos problemas de segurança, eles começaram a fiscalizar quem eram as pessoas que trabalhavam para as organizações e instituições estrangeiras, e as que trabalhavam para o governo. Todos que trabalhavam para tais estavam em grande perigo, essa foi a minha principal preocupação e por esse motivo foi que deixei o Afeganistão. Você sabe que até hoje a maioria da população do Afeganistão continua tentando deixar o Afeganistão.
O Afeganistão é a nossa pátria, o nosso país, mas o motivo pelo qual partimos foi porque as circunstâncias nos forçaram a deixá-lo. Talvez uns 30 anos morando na sua terra natal, façam de você uma pessoa cheia de bagagens e aprendizados; mas seja lá o que aconteça; quando você deixa esse lugar, precisa começar tudo do zero. Foi assim que aconteceu. Enfrentamos tantos desafios no Afeganistão, repetidas vezes, que fomos forçados a nos refugiar e então viemos para o Brasil.
Já fazem quase 2 anos que moro no Brasil e nesse tempo eu pude experimentar muitas coisas. Eu gosto muito de morar aqui, mesmo com a dificuldade de recomeçar tudo do zero. Essa por si só é uma condição que trará muitos desafios.
Eu gostaria de poder viver minha vida no nível que sonho, sonho com uma vida no Brasil em que eu possa não viver no luxo, mas que eu consiga servir minha família e meus filhos. Especialmente, meus filhos, porque acredito que meus filhos poderiam futuramente ser a resposta para o Afeganistão. Tornando-os adultos instruídos, talvez um dia seria possível que eles fossem ao Afeganistão para servir, como médicos ou outros cargos úteis ao país.
Com palavras simples, não consigo descrever a personalidade e atitude do povo brasileiro, porque para mim ficam aquém do que deveriam expressar. Foi assim que, na verdade, aprendi muito com o povo do Brasil. Fui acolhido não como um imigrante ou refugiado, mas sim como se eu fosse também pertencente a este país.
Isso trouxe calma ao meu coração. Me senti livre aqui, pude sentir que o Brasil também era como minha terra natal, que finalmente poderia voltar a investir nos meus estudos e no meu futuro. Não consigo expressar claramente meu sentimento pelo povo brasileiro, mas posso honestamente dizer a vocês que; estando em qualquer outro país; não veria os mesmos comportamentos, não conheceria as mesmas personalidades, a mesma diversidade que existe no brasileiro.
Já viajei por muitos países, mas nunca vi tamanha honestidade, hospitalidade, amizade, carinho e acolhimento como do povo do Brasil.
Os missionários e parceiros da Missão MAIS doaram seu melhor para me acolher e encaminhar minha vida. Naquela base missionária, eles prepararam tudo. Todas as instalações e acomodações, permitindo que a minha família tivesse um recomeço digno. Agora é a minha vez de retribuir todo o favor alcançado neste país”.
Irmão Mohammadi (nome fictício por questões de segurança).
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📸A Páscoa Invisível é um collab de foto-jornalismo com o @flninvisivel e a @fhopbr pra criar consciência sobre uma das maiores tragédias sociais que é a crise migratória oriunda da perseguição religiosa.
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