por Alyson Melo
Era difícil para mim. Confesso que muitas vezes, durante o discipulado, pensei que não alcançaria o coração deles. Sentia-me incapaz e, quando olhava quem estava substituindo, ficava ainda mais atemorizado. Além disso, o vínculo afetivo com os haitianos era quase zero. Em três meses acabei assumindo uma posição que colocava-me hierarquicamente acima dos nativos e o problema é que esses irmãos entendiam muito mais do trabalho do que eu. Nesse processo de transição, eles acreditavam que a MAIS já iria deixá-los na administração dos trabalhos. Mas Deus, na sua infinita misericórdia, deu a esse “matuto” a chance de aprender com Ele.
Fora os obreiros, grande parte da liderança cristã das igrejas locais não me aceitava. Eles respeitavam, mas dos quase 30 pastores, apenas 5 continuaram acreditando no nosso trabalho. Acredito que eu também ficaria com a “pulga atrás da orelha”. Afinal, um jovem de 23 anos que não falava o idioma local, nem inglês e ainda era solteiro, não dava para ser levado a sério como diretor de uma base missionária transcultural.
Lembro-me das noites de ansiedade, das crises, do quanto me esforçava para ser aceito. Mas também me recordo das palavras certeiras de Deus no meu coração. E o primeiro ano passou por várias fases. Posso dizer que, nesse primeiro tempo de discipulado, aprendi com Remy e Bruty, os dois missionários haitianos locais. Eles foram instrumentos de Deus para abrir meus olhos quanto à necessidade do desenvolvimento comunitário.
Certa vez, saindo do mercado, um garoto na rua me pediu dinheiro e eu dei um pacote de biscoito para ele. Depois disso, Remy olhou para mim e perguntou: “Você tem biscoito para dar para todas as crianças do Haiti?” Eu disse que não, mas que estava fazendo a minha parte. Foi aí que Deus o usou grandemente para abrir meus olhos, dizendo: “Você não está ajudando. Na verdade, você está ajudando a alimentar uma mentalidade errada onde o ‘branco’ precisa dar e os nativos permanecem naquela situação”. Quando Remy me falou aquilo, fiquei muito confuso, mas com o tempo comecei a perceber que sempre que saíamos às ruas, só eu era abordado. Quando parávamos em um engarrafamento, as crianças só pediam nos carros de ONGs e agências missionárias que possuíam pessoas “brancas”. Isso foi expandindo meu entendimento e possibilitando novas formas de realizar os trabalhos. No final do primeiro ano, Deus já havia me presenteado com o idioma nativo (crioulo haitiano) e como devíamos prosseguir com o trabalho.
Em setembro de 2014 deixei o Haiti. Os trabalhos relacionados à MAIS estavam sendo desenvolvidos integralmente pelos haitianos. Não há dúvida da graça e da misericórdia de Deus nisso tudo. Pouco antes de deixar o Haiti, ouvi de nossos missionários: “Mesmo se a MAIS sair do Haiti um dia, eu continuarei fazendo aquilo que Deus me confiou”.
Ir rumo ao desenvolvimento, por meio do discipulado, é dar um passo para dentro das pessoas. Sei que não serão muitos que aceitarão essa caminhada junto, mas sempre haverá alguns dispostos a enfrentar esse caminho, mesmo que eles sejam “apenas” três haitianos.
(Esse artigo faz parte da próxima edição da Revista da MAIS, distribuída a nossos parceiros.
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Discipular faz de você um imitar verdadeiro de Cristo. Deus os ajude cada dia mais.
Amém, Lidiane! Deus abençoe (:
Lindo texto! Discipular nos possibilita caminhar,ouvir e aprender com outras pessoas. É uma experiência extraordinária.
Glória a Deus! Que o Senhor continue, ainda que cercados de dúvidas, dando certeza a todos vocês de que Ele supre toda necessidade (física, material, cultural) pra quem se dispõe a servi-Lo!
História inspiradora Alyson, o mover e o trabalhar de Deus é lindo na vida daqueles que permitem isso.
Viajei nesse conteúdo, creio nas coisas grandes que Deus tem para os disponíveis.
Até trabalhar com discipulado na Igreja é um desafio, pois é trabalhar no caráter das pessoas. As pessoas preferem festa a discipular uma vida. Mas se não fosse o discipulado de Jesus não estaríamos aqui. Boa tarde. Pr. Kelsen Bh/Mg