por Ruben Celeti
A perseguição de cristãos no Paquistão não é algo novo, mas se tornou pessoal para mim em 1998. Kashif* era um colega de escola em Dakar e filho do embaixador paquistanês no Senegal. Em poucos meses de convivência, ele passou de colega e amigo para irmão em Cristo, e chegou a me presentear com uma bíblia; símbolo de sua convicção e transformação de vida. Sua alegria durou poucos meses, já que a pressão da família o fez negar a fé e retornar ao islamismo. Não consigo imaginar a pressão e abuso que sofreu. O que sei, é que ele nunca conseguiu superar a vergonha comigo e nossa amizade se perdeu.
Quando perguntei ao pastor Latif sobre o atentado em Lahore, Paquistão, ele estava na Tailândia visitando os cristãos paquistaneses que sofrem naquele país. Eles fogem da perseguição em seu país e chegam em outro que os trata como indesejados, privando-os de direitos humanos básicos, educação, moradia e dignidade. Tanto o governo Tailândia quanto a UNHCR (ACNUR) alegam que não há perseguição religiosa no Paquistão, afirmando que as pessoas se mudam apenas por interesse econômico.
O pastor Latif respondeu à minha pergunta sobre o atentado no Paquistão com outra: “Como é que o governo tailandês consegue alegar que não foi a perseguição que trouxe essas pessoas aqui?” Nós, que não vivemos um contexto de perseguição, racionalizamos, imaginamos e tentamos dar uma resposta lógica à resposta do Latif. O coração dele estava dilacerado com tantas mortes em Lahore e com a situação desumana dos paquistaneses na Tailândia.
A verdade é que, mesmo tendo garantia de status de refugiado por leis internacionais, o fim da perseguição de nossos irmão e irmãs nunca será prioridade do sistema internacional. Continuaremos batalhando, sim, por justiça em um nível institucional. Mesmo assim, como corpo de Cristo, podemos nos aproximar o suficiente dos nossos irmãos para que nosso coração também se quebrante por Lahore e pelo Paquistão, pela Tailândia, e tantos outros lugares onde a Igreja de Cristo está sofrendo. Não creio que o pastor Latif buscava uma resposta para sua pergunta, mas sim o conforto e apoio do corpo de Cristo. Que possamos ser resposta a isso.
*Nome fictício por motivos de segurança
Fiquei muito triste quando apresentamos o trabalho de acolhimento dos refugiados feito pelo MAIS a igreja e a liderança se negou ao menos a apresentar a congregação e tentar fazer acontecer. A mesma liderança as vezes comenta sobre o sofrimento dos nossos irmão nesses países onde há perseguição. Precisamos ser coerentes, temos como ajudar além de ofertar.
Se “nada” podemos fazer no momento, podemos no mínimo, orar. Oremos então! 🙂