Era uma tarde de sábado chuvosa. E lá estávamos nós, eu e uma turma do prático, prontos para uma ação evangelística. Tudo que tínhamos era 50 panfletos, divididos para 14 pessoas. Como estávamos em uma região comercial, era pequena a nossa expectativa de que alguém fosse até a igreja. Oramos e pedimos a Deus que a sua vontade fosse feita. Mas, no fundo eu e todos ali, não acreditávamos que isso acontecesse.
Não demorou a sermos surpreendidos e conhecemos Victor. Com seus 23 anos ele já tinha uma bagagem de vida e era muito talentoso. De família simples, perdeu o pai cedo, mas sua mãe mesmo com poucas condições, o proporcionou o melhor que podia.
Saímos para evangelizar, mas ele nos cativou com sua história. Enquanto ele compartilhava sobre sua vida, me mostrou um vídeo onde ele era o ator principal. Toda timidez mostrada nessa conversa não estava presente no vídeo e logo descobri que a história do vídeo apresentado foi uma apresentação patrocinada pelo governo argentino e, para minha surpresa, eleito o melhor enredo em um dos prêmios locais.
Em um tempo devocional entre a equipe de missionários ele entrou na Igreja, ouviu a palavra e mesmo entendendo pouco a língua portuguesa, compreendeu tudo e ao término me cercou e timidamente, começou a fazer um hip-hop com o tema da reflexão ministrada por nós. Os cinco pontos da reflexão viraram um rap que me fez chorar.
Após algumas horas ao lado de Victor, ele disse se sentir outra pessoa: “Una sensación diferente de ser libre”. Com curiosidade, fez muitas perguntas sobre o que significava algumas palavras em português e também quis saber sobre a minha trajetória cristã. Se eu já havia sentido o mesmo que ele.
No dia seguinte, na manhã de domingo, enquanto eu rascunhava esse testemunho, Victor chegou à igreja para o culto da manhã com um sorriso no rosto, guampa, bomba e cuia pra tomar tererê e um coração feliz por poder recomeçar a sua vida de novo, agora com Jesus.
Ensinei pra ele, que nessa caminhada de Fé, o importante não é ir rápido e sim, longe. Ele chorou ao se lembrar de tanta coisa que seria diferente se tivesse esse pensamento, mas logo riu e disse que agora vai “tranquilo, sin pressa”.
Sai daquele prático com o coração grato e aliviado por saber que dentro de alguns dias, o pastor iniciaria o processo de discipulado com ele. Onde ele irá crescer, amadurecer e com isso, muito em breve, ele estará à procura de outros “victors”, como ele mesmo prometeu.
Lucas Sterssio é coordenador do Centro de Treinamento da MAIS ( CTMAIS) e missionário da MAIS em tempo integral.