De acordo com o Dicionário de Psicanálise de Roudinesco (1998), o método catártico é o procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e, então, ab-reagi-los, revivendo os acontecimentos traumáticos a eles ligados. A fala é o meio pelo qual estes afetos são eliminados. Por meio da fala, é dada ao paciente a oportunidade de se conectar com ideias bloqueadas que levam aos sintomas atuais. Falar é terapêutico nem que seja pelo simples fato de nomear os nossos pecados para conhecer os nossos inimigos, aquilo que tenta nos derrubar, aquilo que precisamos enfrentar. Além de nos colocar sempre diante da realidade de que não somos perfeitos, temos falhas, temos defeitos e precisamos de ajuda.
Da mesma forma, precisamos nomear os nossos pecados para colocá-los aos pés da cruz vazia. É aqui que começa a nossa jornada rumo à uma espiritualidade transformadora: ficando mais perto da nossa humanidade (com todas as mazelas e fragilidades que nos tornam humanos) nos tornamos mais suscetíveis ao poder transformador da graça de Deus.
Somos apenas vasos e imperfeitos nisso. É como o apóstolo Paulo escreve na carta à igreja em Corinto: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós”. (2 Coríntios 4.7). Assim, quando conseguimos parar e olhar para esse vaso de barro, suscetível a toda espécie de intempérie, vemos que temos um longo caminho a percorrer, há uma jornada a ser trilhada e que não pode ser feita sozinho. Somos necessitados.
Estava lendo a narrativa de Abraão em Gênesis e sempre me pego espantado e chateado com ele quando mente com relação a Sara ser sua esposa com medo de que os governantes da região onde eles estavam de passagem o matassem para ficar com ela (Gn 12.11 – 20. Ver também Gn 20). É tão diferente dos meus outros livros de super heróis, ou de batalhas espaciais. E o que assusta não é a diferença óbvia na ficção ou forma de escrita, mas o fato de que Abraão, o herói, o pai da fé, usa de uma estratégia tão covarde só para sobreviver. Mas é aí que eu lembro da importância de a Bíblia ser escrita e vivida por pessoas como eu e você, heróis da vida real, gente que só está alí por ser vaso de barro, o tesouro verdadeiro é a Graça divina. Os heróis bíblicos fazem mais sentido porque são reais e, assim como eu, precisam da Graça. Nós é que enfocamos com exagero as cenas que descrevem manifestações do poder divino, mas não o texto bíblico (ELIENAL, 2009).
Equipe de Cuidado Missionário*